Kardec assevera ter origem no instinto de conservação todas as paixões e vícios do ser humano (“A Gênese” e “O Céu e o Inferno”). Por outro lado em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, a vingança é apontada como o último resquício da barbárie humana. Já foi dito que a vingança é um prato que deve ser servido frio, o que bem demonstra a ação do intelecto já desenvolvido na gestão de atitudes norteadas pelo prazer que a vingança traz… Sim, prazer… Infelizmente esse é o termo, prazer.
Por que a vingança é particularmente prazerosa para a maioria das pessoas? O prazer é, grosso modo, a sensação intensamente agradável que um ato ou fato provoca no universo sensorial do ser. Quando o ser humano se sente aviltado, ofendido, seja ou não real a sua desdita, basta imaginar algo de igual intensidade ou até bem pior acontecendo com o desafeto para que uma satisfação se insinue em sua alma…
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Quem sabe seja melhor assim… Talvez muitos atos tresloucados sejam evitados pelo mero prazer em imaginar o pior para aqueles que trouxeram dor moral ou física… Talvez… De qualquer modo, o ensinamento cristão aponta na direção de posturas que tais… Jesus ensinou a mostrar a outra face. Ensinou a perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes… Ensinou a amar aos inimigos… Há quem oculte nos ensinamentos o desejo sorrateiro de vingança, travestindo-o em pensamentos como “Eu o perdoo, mas não queria estar em sua pele diante de Deus!!!”; ou então “Deus vai lhe dar o que merece!!!”… Quem assim pensa, pelo menos já deixou de praticar moto propriu (do Latim: espontaneamente) os atos de vingança… Mas continua desejando que o desafeto sofra…
Dizem que “ciúme” é desejar que outrem não tenham o que temos, e que “inveja” é não desejar que outrem tenham o que têm (o invejoso muitas vezes sequer deseja para si o que os outros têm, apenas gostaria que também não tivessem…). A vingança é o desejo mórbido de que a dor que sentimos seja vivenciada pelos nossos desafetos. Curiosamente, o desejo de vingança ocorre até mesmo quanto a dores que não são nossas…
Nesse contexto, continuo concordando com o ensinamento de André Luiz. Tudo indica que a Vida condiciona atração e repulsão no mineral, automatismos fisiológicos no vegetal, instintos no animal e conduta no ser humano…
Depois de evos inteiros na aquisição do enorme tesouro instintivo humano, buscamos condicionar nossa conduta… É o momento da cosmoética determinar os contornos do ser
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