terça-feira, 25 de setembro de 2012

Há 80 anos Parnaso de além-túmulo chegava às livrarias

(Por Izabel Vitusso)
 
A presença de Chico Xavier é sempre muito marcante e aparentemente atemporal em nosso cotidiano espírita, motivo pelo qual chega a nos causar espanto o fato de já estar se completando 80 anos desde a publicação da primeira obra psicografada pelo médium. Chico ainda era novo, não tinha mais que 22 anos, quando viu o Parnaso de Além-Túmulo chegar às mãos dos leitores e ganhar até mesmo notoriedade entre comentários de membros da Academia Brasileira de Letras.
 
 A cada reedição, mais poemas e autores foram enfeixados no livro, que alcançou em 1955 – 6ª edição – cerca de 260 poemas atribuídos a 56 autores.
 
Além da beleza na arte da rima, assinada por expressivos nomes da literatura na língua portuguesa, como Antero de Quental, Casimiro Cunha, Fagundes Varela, Olavo Bilac, Guerra Junqueiro, Parnaso de além-túmulo era a prova a ser contestada, para quem quisesse pesquisar e comparar, de que os que morrem continuam vivendo e preservam seus estilos, com as mesmas tendências, tangendo os mesmos assuntos de interesse de quando viviam.

Falar sobre vida após a morte pode parecer algo comum hoje, quando assistimos a telenovelas com temáticas espíritas em horário nobre na televisão. Mas não é difícil imaginar o impacto que causou esta publicação em plena década de 30 do século passado.

Segundo o escritor e pesquisador Clóvis Ramos, autor de 50 anos de Parnaso1, a publicação dessa obra ordenada pelos espíritos, que ‘aterrissou’ pelas mãos de um médium com excelentes atributos para recebê-la, “abalou profundamente as convicções materialistas dos literatos do país todo, porque o estilo de cada poeta revelava claramente sua identidade e todos os literatos sabiam que em Pedro Leopoldo [cidade mineira onde vivia o médium] não existia biblioteca alguma para consulta nem pessoas cultas que conhecessem todos aqueles estilos para imitá-los tão perfeitamente”.

A comprovação da autoria através do estudo do estilo de cada autor das poesias que compõem a obra instigou não só a curiosidade dos antigos. Pelo menos dois estudos realizados no ensino superior brasileiro nos últimos anos elegeram o Parnaso de além-túmulo como o ‘canteiro de obras’ de estudiosos de literatura.

Seriam efetivamente os poemas dos autores que os assinaram?

Em seu trabalho de conclusão de curso, o estudante de Letras, Benedito Fernando Pereira2, se predispôs a analisar a seção atribuída a Olavo Bilac, tomando como base estudos críticos da sua obra e cotejando dez sonetos mediúnicos com poemas escritos em vida pelo poeta.

Diferente não foi o interesse do pesquisador Alexandre Caroli Rocha, em sua dissertação apresentada em 2001 na Unicamp3, que focou detidamente em estudo de pelo menos cinco autores [João de Deus, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos], e suas obras, tanto escritas quando vivos como os poemas a eles atribuídos no Parnaso de além-túmulo . “Percebi que, em grande medida, características formais e temáticas dos autores estudados também estão presentes nos versos mediúnicos. A constatação nos permite inferir: quem concebeu os poemas, além de possuir diversas habilidades poéticas, conhecia muito bem particularidades sutis daqueles autores, as quais foram apreendidas e explicitadas nos estudos críticos que utilizei no estudo”, avalia Caroli.

“Escrever convincentemente poemas à maneira deste ou daquele poeta demanda não apenas talento especial, mas muita leitura e muita técnica; no entanto, no prefácio do livro, Chico Xavier dizia que os versos eram psicografados, e que ele não havia despendido esforços intelectuais para escrevê-los”, completa o pesquisador.

Também Benedito Fernandes encontrou grande proximidade estilística entre os textos, confirmando a identidade autoral.

O fato de a cada edição do Parnaso novos poemas e novos autores serem acrescentados sugeriu também a Caroli que o projeto final da obra pretendeu abranger, sob a forma poética, os principais temas da obra básica da codificação: O livro dos espíritos. 

1- Clóvis Ramos, 50 anos de Parnaso, FEB.
2- Benedito Fernando Pereira, Psicografia e autoria: Um estudo estilístico-discursivo em Parnaso de além-túmulo. Universidade do Vale do Sapucai, 2008, Pouso Alegre, SP.
3- Alexandre Caroli Rocha. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. Dissertação de mestrado, Unicamp, 2001, Campinas, SP.
 
Publicado na edição 446 do jornal Correio Fraterno - julho/agosto de 2012

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