Solução de conflitos para a família como um todo
De que forma a Doutrina Espírita auxilia na superação de conflitos familiares e qual sua mensagem para famílias desunidas?
Divaldo Franco — Há uma excelente solução apresentada pela Doutrina Espírita: trazer Jesus para a intimidade do lar, por meio do estudo do Evangelho, pelo menos uma vez por semana. Todos devemos reservar pelo menos uma noite para uma convivência saudável com nossos familiares.
O estudo do Evangelho no lar é uma solução preventiva, porque nos une de maneira espiritual, por mais profundidade do que por alguns laços convencionais.
O labor do Evangelho no lar é muito simples: não tem uma fórmula, não se trata de nenhuma cerimônia, bastando que, pelo menos uma vez por semana, todos se reúnam, sentem-se em volta da mesa de refeições e conversem tranquilamente, incluindo os filhos, após uma oração singela, a leitura de uma página de uma obra edificante.
O diálogo ainda é uma das melhores soluções para quaisquer situações embaraçosas. Sugerimos como leitura para reflexões O Evangelho Segundo o Espiritismo, pela maneira como os Espíritos e Allan Kardec interpretam a proposta de Jesus sob o ponto de vista ético-moral.
Mas, se a pessoa pertencer a outra doutrina religiosa, pode utilizar o seu livro base, como a Bíblia, por exemplo. Há tantos livros admiráveis que levam a reflexões profundas, seja na Igreja Católica, na Igreja Evangélica, no Budismo, ou mesmo entre os muçulmanos, ou judeus, que podemos fazer disso uma terapia.
O Evangelho no Lar deve iniciar com uma oração. Pode-se pedir a um filho que a faça, e, em seguida, outra pessoa deve fazer uma breve leitura do livro preferido. Depois comenta-se, discute-se, abordam-se os problemas que ocorreram durante a semana e as dificuldades que existirem na família.
Qualquer discussão indevida, qualquer palavra irrefletida, qualquer atitude precipitada, ali, na comunhão do lar, vai poder ser colocada como motivo para que todos se desculpem. Todos vão ter naquele momento a oportunidade de reabilitar-se.
Logo depois dos comentários sobre o texto, podemos orar, colocar até mesmo um vasilhame com água sobre a mesa e pedir a Jesus que repita o fenômeno de Caná.
Em Caná, nas bodas, ele transmitiu à água o sabor de um vinho capitoso. Ali, nós vamos pedir para que ele transforme a constituição molecular da água em medicamento para nossas necessidades, em veículo de paz que nos atenda na compreensão de nossos deveres, que aquela água abençoada possa servir para a sustentar nossas energias e tornar-se um veículo de união entre todos.
Em seguida, ora-se em favor uns dos outros, dos enfermos, dos amigos, mas também dos inimigos. Não devemos ter constrangimento em relação a isso, porque todos temos inimigos, é quase inevitável.
O importante não é importar-se com isso, mas não sermos inimigos de ninguém. Ora-se por eles, pelos desencarnados, pelos afeiçoados, pelos Espíritos perversos, por aqueles que nos perseguem, que nos odeiam, que criam situações obsessivas lamentáveis.
Concomitantemente, procura-se também elevar o pensamento ao mundo espiritual, para que as entidades venerandas visitem o lar em nome de Jesus; ou o próprio Mestre, através do seu sublime psiquismo, passe a habitar nesse ninho doméstico. Com 20/30 minutos de comunhão, estabelece-se um vínculo saudável na intimidade do lar.
Desse modo, estamos com as portas abertas para que Jesus seja habitante do nosso núcleo familiar.
Divaldo Franco — Podemos impedir a presença de conflitos conjugais mantendo uma postura espiritual, abraçando o amor como sendo a nossa âncora de salvação.
Quando a união se alicerça na espiritualidade, os cônjuges podem dialogar com tranquilidade, desculpar-se um perante o outro, falar de suas dificuldades, explicar os problemas que os atormentam, as necessidades interiores que lhes caracterizam a alma, abrir o coração.
Não se trata dessas confissões vulgares em que a pessoa pede perdão, arrepende-se e volta a repetir o mesmo erro, o mesmo engano, mas sim de uma atitude positiva de solidariedade, de respeito, de comunhão, de alta consideração.
Só no momento em que a ternura toma conta da criatura é que o amor se expressa e pode haver uma coabitação afetiva.
Há, no indivíduo, a necessidade de conjugar seu sentimento com outrem, de fundir-se no outro, e naturalmente a carícia, a ternura e o amor verdadeiro fazem com que a família esteja perfeitamente estruturada. Eu me recordo de um ditado popular que a minha veneranda mãe dizia:
Os dedos da mão nascem na mesma hora, mas são diferentes, para poder ajustar-se no ato de pegar. Nós somos diferentes uns dos outros, mas que as nossas diferenças sirvam para nos ajudar na verdadeira união.
E quando os pais discutem na frente dos filhos?
Divaldo Franco — Quando os adultos discutem diante dos filhos, dão-lhes o exemplo da incompreensão e da incompatibilidade. É natural que a criança quando vê os pais em conflito, adira àquele que se torna vítima. Mas nem sempre esse é o lado que está com a razão.
Desse modo, os pais nunca devem entrar em conflito, diante dos filhos, pelo fato de estarem desincumbindo-se da tarefa da educação, pelo contrário, devem procurar agir sempre de comum acordo, com amor e com disciplina.
Você não reencarnou na sua família por acaso, tudo tem um propósito maior. E nem sempre se pode escolher a família que vai reencarnar, nem pais escolhem os filhos que vão ter no plano espiritual.
Foi perguntado para Divaldo Franco: Pode acontecer a reencarnação mesmo sem o consentimento da futura mãe?
Divaldo Franco — Não apenas pode, mas é o que acontece frequentemente. Existem vínculos superiores aos nosssos interesses materiais e, quando essa mãe que não quer o filho, reencarnou, já tinha recebido, no além, as instruções de que a maternidade aconteceria.
A razão que leva o Espírito a criar no inconsciente uma certa rebeldia, uma oposição, quando se dá conta que é um rejeitado pela futura genitora. Os guias espirituais, porém, não consultam pela segunda vez e aproveitam-se do relacionamento sexual para fazer a vinculação do Espírito reencarnante com o espermatozoide, mesmo que a contragosto de um ou de ambos os futuros genitores.
Fonte: Divaldo Franco Responde: Volume 2.
Divaldo Franco.
Intelítera Editora, São Paulo, 2013.
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