quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

AMIGOS


Quando Jesus entrou, vitorioso, em Jerusalém, houve um instante em que parou para
respirar livremente. Com ele, apenas Bartolomeu, apagado e discreto. O discípulo exultava.
Até eles chegavam os ecos do grande êxito. Hosanas ao Messias. Cânticos. Algazarra.
Perfumes no ar. Não longe, Simão Pedro, que negaria o Senhor. Judas, que o negociara.
Tomé, que o abandonaria. Tiago e João, que dormiriam descuidados, sem lhe perceberem a
angústia. E toda uma legião de admiradores que, no dia seguinte, se transformariam em
adversários.
Bartolomeu, feliz, observou a atmosfera festiva e disse, contente:
Oh! Mestre, quanta felicidade! Afinal! Afinal a glória, apesar dos perseguidores!
Notando que Jesus continuava em grave silencio, o aprendiz perguntou:
- Por que tristeza, Senhor, se estamos triunfando de tantos inimigos?
O Cristo, porém, meneou a cabeça e, fitando a turba próxima, falou sereno:
- Bartolomeu, Bartolomeu, vencer, mesmo tendo inimigos, é sempre fácil, porque os
inimigos se colocam a distancia, por si mesmos.
E profundamente desencantado:
- A batalha mais árdua é vencer com os amigos.

(Obra: A Vida Escreve - Waldo Vieira/Hilário Silva)

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