quarta-feira, 27 de março de 2013

Entre o Dever e o Amor

Esclarecimento
MÉDIUM

Um homem que foi general. Seus comandados o atendiam cegamente. Ele colocava
em suas mãos granadas e baionetas e ordenava que fossem para o fogo da
batalha. E eles iam e morriam e eram mutilados e obedeciam.
O que me impressiona é que, quando Jesus manda apenas que empunhemos a
Fraternidade, que sejamos irmãos uns dos outros, que amemos a Paz, a
Solidariedade, e nós não obedecemos. Preferimos tombar nos campos de batalha
do mundo, dando depois lamentáveis testemunhos de dor, fracasso, de
sofrimento.
Eis agora o testemunho deste nosso irmão (o seu nome é fictício para
resguardar a sua personalidade na Terra) que foi General na Segunda Guerra
Mundial.


Caros irmãos, diante de vocês está um homem que foi preparado para comandar,
e que via nisso a suprema realização da vida. Lutei, fui mandado testar os
meus conhecimentos no campo de batalha na Itália, festejei com a família e
com os amigos. Esperava ansioso as condecorações. Por nenhum instante pensei
no sangue que seria derramado, no sofrimento com o qual iria me confrontar e
nem tive medo em instante algum. Trazia dentro de mim a força dos heróis.
Era rigoroso na disciplina, implacável no comando. Estrategista, realmente
me orgulhava de tudo aquilo que havia conquistado e me sentia um homem
forte, realizado e capaz. Tinha sobre o meu comando muitos jovens, alguns
até imberbes. Muitos choravam por dias e dias e eu os castigava e dizia que
o homem devia ser testado nos campos de batalha. Mas muitos haviam recebido
apenas treinamento para enfrentar as trincheiras da morte. Eu os desprezava.
Aqueles que choravam, aqueles que temiam a morte eram os que eu primeiro
mandava para Frente de Batalha, porque me fazia mal a covardia que eles
traziam na face, o medo que traziam nos olhos; e nos campos de batalha nunca
me importei ao ver jovens e jovens ensangüentados, desfigurados.
Recolhia-lhes a identificação para poder notificar a família. E sempre e
sempre, quanto mais cruenta era a batalha, mais cruel eu ficava na alma,
mais duro do que aço, mais implacável que o fragor dos canhões a fazer dia
em plena noite, trazendo dor e vomitando fogo.
Chegou, no meu Regimento, uma freira ainda jovem, voluntária. O anjo
consolador de quantos tombavam feridos, desesperados, mutilados. E eu
observava essa enfermeira. Via nela a coragem, mesmo quando canhões se
aproximavam muito e as granadas explodiam. Em seus olhos não brilhava em
nenhum instante o medo. Tinha sempre um sorriso na face. Tinha sempre uma
palavra de consolo. Perto daqueles que sofriam ela se transformava em mil
mulheres. era mãe, era irmã, era noiva, era filhinha ou era simplesmente a
imagem de Maria. E eu, muitas vezes, falava com os rapazes que eu tinha que
enviar para as trincheiras de lutas:
Vejam essa freira, menina quase e não tem medo. Não tem medo da batalha. Não
tem medo da luta. E vocês que são homens, tremem e choram, sofrem e se
escondem.
Muitos e muitos enlouqueciam, quando tinham que correr em direção ao fogo,
aos trovões dos canhões. Mas eu não me importava, e um dia perguntei para a
freira:
De onde você tira tanta força, para permanecer noites e noites em claro, se
alimentar mal e cuidar de tantos enfermos?
E ela disse:
Eu tiro essa força da minha fé, a força me vem de Deus. A sua força está na
sua arma. A sua fé está na vitória que você que obter, mas a minha vitória
será reconquistar essa criaturas que não acreditavam mais na bondade nem na
paz. A minha vitória será levar a esperança para cada um desses que não
recuperarão no campo de batalha o braço, a perna, os olhos, a beleza, a
saúde e muitos, nem a vida. A minha vitória está em reconquistar a lucidez
dos que ensandeceram diante do horror da batalha. A minha fé é esta e seu eu
aqui estou, não estou para ajudar generais, mas para ajudar aqueles que são
comandados pelos generais, que ficam nas suas tendas a dar ordem para que
morram. Se sentem heróis e no entanto não são capazes de liderar na frente
os seus comandados! Jesus lidera os seus comandados, por isso eu o sigo.
Jamais seguiria um general.
Naquela noite houve um bombardeio intenso. A freira, que se chamava Irmã
Maria Clara, morreu, e com ela morreu também a esperança de muitos que
sobreviveram e muitos, em delírio, gritavam por seu nome, gritavam por
Jesus, gritavam por Maria. Outros gritavam por suas mães em terras
distantes. Gritavam pelos filhos que não iriam mais ver. E naquele dia em
que Irmã Maria Clara morreu, nasceu em meu coração a certeza de que Jesus
realmente era o Grande General. Era o General, não de pessoas covardes que
se amedrontavam diante das provas e das lutas, mas General daqueles que, na
fragilidade do ser, possuíam a força do aço. Eu voltei da guerra. Fui
condecorado. E vim depois a morrer vítima de enfermidade. Ao chegar ao plano
espiritual certamente não ostentava as medalhas que me enfeitaram o peito.
Na terra é que se encontram, guardadas em depósitos de veludo. Também não
encontrei os Pracinhas, porque a guerra era uma prova coletiva e todos nós
teríamos que responder pelas atrocidades cometidas e não pelas ordens que
havíamos dado. Mas sofri muito. Sofri muito pelos conflitos que trazia na
alma. Sofri pela perseguição dos inimigos que eu adquiri, porque muitos dos
Pracinhas que tombaram nem sequer retornaram para as Terras do Brasil. Seus
espíritos, ainda muito deles, vagueiam em terras da Itália, em grandes
sofrimentos, porque isso eu pude constatar, levado por instrutores, e foi o
instante em que eu mais sofri. Eu e tantos outros fomos obrigados a perceber
o sofrimento daquelas, para as quais até hoje a guerra não acabou.
É preciso dominar realmente, a violência em nossas almas. E aquele que busca
os comandos na Terra, realmente, ainda traz dentro de si muita violência. E
aqueles que são comandados precisam aprender também que a violência não é
bandeira para ser abraçada e seguida. Jesus nos ensinou a paz. Irmã Maria
Clara, vim reencontrá-la depois, na sua humildade, ainda ajudando e
servindo, se apagando humildemente, e ainda dizendo que o maior General de
todos os tempos ainda é Jesus, e que a mais bela Batalha para se ganhar é a
Batalha da Vida, e a maior condecoração que um homem pode receber é o
serviço em favor dos que sofrem. Que a maior benção é a disciplina na alma,
não resvalando nas trincheiras das quedas morais, mas no entrincheiramento
no caráter, buscando o serviço e a luz. Ainda sofro e sofro muito. Ainda
aprendo e aprendo pouco. Mas tenho pesquisado, tenho buscado entender as
criaturas que se situam no comando estou tentando ser cada dia mais
obediente ao Comando do Cristo. Espero tão somente que um dia ele possa
confiar em mim, e que eu também possa ter confiança.
Eu agradeço a todos que me ouviram. E saibam, meus irmãos, que a violência
não resolve situações sociais e muito menos resolverá situações espirituais.
Saibamos aceitar o jogo das necessidades e da dor, porque a Terra não está
sem governo, porque a terra não está sem Deus. Jesus está no comando e Deus
tem enorme amor por todas as criaturas, violentas ou não. Mas aquele que
aceita o comando do Cristo, que aceite também a humildade e o bem em suas
vidas.

Um General
Mensagem extraída do livro ”Um amanhã de luz”

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