quinta-feira, 12 de julho de 2018

Viciação Alcoólica


Sob qualquer aspecto considerado, o vício – esse condicionamento pernicioso

que se impõe como uma “segunda natureza” constritora e voraz – deve ser

combatido sem trégua desde quando e onde se aloje.



Classificado pela leviandade de muitos de seus medos como de pequeno e grande

porte, surge com feição de “hábito social” e se instala em currículo de longo

tempo, que termina por deteriorar as reservas morais, anestesiando a razão e

ressuscitando com vigor os instintos primevos de que se deve o homem libertar.



Insinuante, a princípio perturba os iniciantes e desperta nos mais fracos

curiosa necessidade de repetição, na busca enganosa de prazeres ou emoções

inusitados, conforme estridulam os aficionados que lhe padecem a irreversível

dependência.



Aceito sob o acobertamento da impudica tolerância, seu contágio destrutivo

supera o das mais virulentas epidemias, ceifando maior número de vidas do que o

câncer, a tuberculose, as enfermidades cardiovasculares adicionados…

Inclusive, mesmo na estatística obituária dessas calamidades da saúde, podem-se

encontrar como causas preponderantes ou predisponentes as matrizes de muitos

vícios, que se tornaram aceitos e acatados qual motivo de relevo e distinção…



Os vitimados sistemáticos pela viciação escusam-se abandoná-la, justificando

que o seu é sempre um simples compromisso de fácil liberação em considerando

outros de maior seriedade que, examinados, a sua vez, pelos seus sequazes, se

caracterizam, igualmente, como insignificantes.



Há quem a relacione como de conseqüência secundária e de imediata potência

aniquilante. Obviamente situam suas compressões como irrelevantes em face de

“tantas coisas piores”… E argumentam: “antes este” , como se um mal pudesse

ter sopesado, avaliada e discutidas as vantagens decorrentes da sua atuação…



Indiscutivelmente, a ausência de impulsão viciosa no homem dá-lhe valor e

recursos para realizar e fruir os elevados objetivos da vida, que não podem ser

devorados pela irrisão das vacuidades.



A vinculação alcoólica, por exemplo, escraviza a mente, desarmonizando-a, e

envenena o corpo deteriorando-o. Tem início através do aperitivo inocente, quão

dispensável, que se repete entre sorrisos e se impõe como necessidade,

realizando a incursão nefasta, que logo se converte em dominação absoluta, desde

que aumenta de volume na razão direta em que se consome.



Os pretextos surgem e se multiplicam para as libações: alegria, frustração,

tristeza, esperança, revolta, mágoa, vingança, esquecimento… Para uns se

converte em coragem, para outros em entusiasmo, invariavelmente impondo-se,

dominador incoercível. Emulação para práticas que a razão repulsa, o alcoolismo

faz supor que sustenta os fracos, que tombam em tais urdiduras, quando, em

verdade, mais os debilita e arruína.



Não fossem tão graves, por si só, os danos sociais que dele decorrem –

transformando cidadãos em parias, jovens em vergados anciãos precoces,

profissionais de valor em trapos morais, moçoilas e matronas em torpes

simulacros humanos, aceitos e detestados, acatados e temidos nos sítios em que

se pervertem, a caminho da total sujeição, que conduz, quando se dispõe de

moedas, a Sanatórios distintos e em contrário, às sarjetas hediondas, em ambos

os casos avassalados por alienações dantescas -, culmina em impor os trágicos

autocídios, por cujas portas buscam, tais enfermos, soluções insolváveis para os

problemas que criaram espontaneamente para si próprios… Não acontecendo à

queda espetacular no suicídio, este se dá por processo indireto, graças à

sobrecarga destrutiva que o alcoólatra ou simples cultivador da alcoolofilia

depõe sobre a tecelagem de elaboração divina, que é o corpo. E quando vem a

desencarnação, o que é também doloroso, não cessa a compulsão viciosa, em que o

espírito irresponsável constata que a morte não resolveu os problemas nem

aniquilou a vida…



Nesse capítulo convém considerarmos que a desesperada busca ao álcool – ou

substâncias outras que dilaceram a vontade, desagregam a personalidade,

perturbam a mente – pode ser, às vezes, inspirada por processos obsessivos,

culminando sempre, porém, por obsessões infelizes, de conseqüências

imprevisíveis.



A pretexto de comemorações, festas, decisões, não te comprometa com o vício.



O oceano é feito de gotículas e as praias imensuráveis de grãos.



Liberta-te do conceito: “hoje só”, quando impelido a comprometimento

pernicioso e não te facultes: “apenas um pouquinho”, porquanto, uma picada que

injeta veneno letal, não obstante em pequena dose, produz a morte imediata,



Está-se bafejado pela felicidade, sorve-a com lucidez.



Se te encontras visitado pela dor, enfrenta-a, abstêmio e forte.



Para qualquer cometimento que exija decisão, coragem, equilíbrio, definição,

valor, humildade, estoicismo, resignação, recorre à prece, mergulhando, na

reflexão, o pensamento, e haurirás os recursos preciosos para a vitória em

qualquer situação, sob qual seja o impositivo.



Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te

libertarás quando queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam

sob essa violenta dominação.



(Do livro Após a Tempestade, psicografado por Divaldo Pereira Franco –

Editora LEAL)

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